Review: Godfall

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O jogo de lançamento esquecível da geração PS5

Todo console novo tem aquele tipo de jogo que chama a atenção por ser um dos primeiros a serem anunciados pela plataforma, e que ganha uma certa atenção durante a campanha de divulgação do novo aparelho. Aí este jogo sai e, quando cai nas mãos das pessoas, percebemos que ele não é grande coisa assim. Lembremos de Killzone: Shadow Fall no PlayStation 4, ou Ryse: Son of Rome no Xbox One.

Godfall entra para a história do PlayStation 5 como esse tipo de jogo.

Anunciado em 2019, o título da Counterplay Games foi o primeiro a ser anunciado para o novo console da Sony, o que imediatamente lhe trouxe atenções, afinal, o PS5 era fervorosamente aguardado por fãs e qualquer novidadezinha sobre o aparelho estava valendo.

Parte da linha de jogos do lançamento do PS5 (e também disponível para PC), Godfall não se sobressai em mais nenhum outro elemento que não seu timing. É o tipo de jogo que, no máximo, vai servir para demonstrar a capacidade da nova máquina, aquele tipo de jogo que você coloca pra rodar no console ligado à vitrine de alguma loja para demonstrar os gráficos do aparelho.https://www.youtube.com/embed/IzKOQ0enWfY

Godfall reúne elementos de ação vistos em jogos mais cadenciados do gênero na geração de PS4 e XOne, como Monster Hunter, e coloca uma camada de obtenção de itens vista em jogos como serviço da estirpe de Destiny (de onde vem alguns dos desenvolvedores da Counterplay, inclusive).

Apesar das inspirações, este não é um jogo como serviço (apesar de exigir conexão constante à internet para funcionar). Ele tem uma história com início, meio e fim, todos pouco memoráveis. Sua trama gira em torno de uma disputa entre irmãos. Você é Orin, um guerreiro traído pelo próprio irmão, Macros, em sua busca gananciosa por se tornar um Deus. Isso pode ser um pouco complicado para o resto do mundo, então Orin parte em uma jornada para frustrar os planos de seu parente.

Não existe nada de destaque para se saber da história de Godfall além de sua sinopse, já que a trama parece estar ali só para constar, tanto pelo que acontece no decorrer das cerca de 15 horas de jogo, em uma estrutura previsível, seja por uma incapacidade de geração de empatia por parte dos personagens.

Seja pelo tom monótono de voz de todo o elenco, seja pela completa ausência de rostos humanos entre os bonecos – o único a ter rosto é, ironicamente, um NPC sem corpo -, Godfall parece mais um desfile de armaduras falantes do que uma história com personagens que minimamente lembram pessoas com objetivos e aspirações. É um feito inacreditável para um jogo com tanto poder gráfico e talento à sua disposição.

Godfall

Divulgação/Gearbox

A história, claro, é secundária perante o principal elemento de Godfall: seu loop de gameplay em que você faz missões, coleta novos equipamentos (e recursos para aprimorar o que você já tem), enfrenta chefes e repete. O jogo conta com 3 grandes áreas e, após a conclusão da campanha, dois desafios extras se abrem com equipamentos de alto nível.

O jogo conta com uma infinidade de coletáveis que chegam até a confundir em muitos momentos, ou tem uma redundância que não faz muito sentido (qual a necessidade de se ter cinco tipos diferentes de equipamento defensivo?). Nesse aspecto, o elemento mais interessante acaba ficando por conta das Valorplates, as diferentes armaduras que você pode obter ao longo da aventura.

No combate, Godfall não é lá grande coisa, mas também não faz feio. Seu pior problema é querer misturar comandos de jogos de ação com uma precisão de jogo de tiro – o personagem tem até uma mira no centro da tela -, o que invariavelmente resulta em golpes de impulso na direção errada, errar o golpe quando se está cercado, entre outras coisas. Ainda no fenômeno “novidade”, umas gracinhas do controle DualSense também dão um ar de originalidade, como endurecer os gatilhos na hora de um ataque pesado.

A melhor parte do combate de Godfall acaba ficando por conta das lutas de chefe, que têm alguns níveis de complexidade a mais em relação ao loop de gameplay padrão. Ainda assim é pouco, pois o maior desafio se dá no fato de que os chefes aplicam muito dano, enquanto os padrões de ataque são facilmente previsíveis e quase sempre há uma abertura generosa para atacar.

Godfall

Divulgação/Gearbox

Falando em gráficos, este talvez é o ponto mais alto de Godfall. Todo título de lançamento de um novo console é, de certa forma, um garoto-propaganda de seus aspectos técnicos, e a Counterplay parece ter ciência especial disso, trabalhando com cenários e armaduras extremamente reluzentes (apesar de o ray tracing só estar disponível, ao menos no lançamento, no PC – e apenas em placas de vídeo da AMD), que demonstram bem o potencial gráfico do PlayStation 5.

Ainda assim, o jogo não se livra de certos gargalos técnicos, ao menos no console da Sony. Durante nossa experiência, foram vários os momentos em que o jogo deu uma “engasgada” (ou stuttering, para ficar em um termo mais técnico), travando a taxa de quadros especialmente em momentos de mais ação. O jogo também fechou abruptamente em diversos momentos – inclusive, depois da cena de créditos.

Daqui uns quatro ou cinco anos, quando inevitavelmente lembraremos do início da geração de PlayStation 5 e Xbox Series, vamos lembrar também dos jogos de lançamento destes consoles. Vamos lembrar que, apesar de esta geração ter tido alguns títulos de peso em relação às anteriores, também tivemos títulos completamente esquecíveis. E aí, vamos nos lembrar de Godfall.

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